sexta-feira, 22 de abril de 2011

O MUNDO BIPOLAR


            A geopolítica bipolar, marcada pela supremacia dos Estados Unidos e da União Soviética, definiu as relações internacionais e o destino de quase todos os países nas décadas seguintes ao final da Segunda Guerra. Praticamente todos os acontecimentos políticos e militares, entre 1947 e 1989, ocorreram nesse contexto de Guerra Fria: a Guerra da Coréia, a Guerra do Vietnã, a descolonização na África e na Ásia, a Revolução Cubana, os conflitos no Oriente Médio, a questão alemã e outros.

            Aproveitando-se de guerras regionais, as duas superpotências procuravam demarcar ou ampliar suas áreas de influência, cujos limites adquiriram dimensão mundial.
            Cinco anos após o término da Segunda Guerra, em 1950, os dois países já se defrontavam indiretamente na Guerra da Coréia. Em 1959, a Revolução Cubana enfrentou a oposição dos vizinhos norte-americanos, o que levou Cuba, nos anos seguintes, ao alinhamento com a União Soviética e á integração ao bloco socialista. Foi a primeira grave ruptura do domínio absoluto dos Estados unidos em seu “quintal” - a América Latina. A União Soviética também viveu sérios conflitos em seus domínios, como as tentativas de insurreição na Hungria, em 1956, e na Tchecoslováquia, em 1868, ambas sufocadas pelo exército soviético.
            O ano de 1964 marcou a intervenção direta dos Estados Unidos no Vietnã, num conflito que se arrastava desde o final da Segunda Guerra, contra o colonialismo francês.
Josef Stálin
            Os Estados Unidos, com a sua política de contenção do comunismo, sempre apoiaram as tropas francesas. No entanto, a participação direta dos norte-americanos revelou-se desastrosa. Além das perdas humanas (cerca de 50 000 mortos e 800 000 entre feridos e mutilados), que mobilizaram negativamente a opinião pública norte-americana, a guerra teve um custo astronômico. Em 1973 os Estados Unidos retiraram-se da guerra, derrotados e totalmente desmoralizados.
            Os Estados Unidos e a União Soviética já haviam iniciado em 1955, após a morte do ditador russo Josef Stálin, uma política de coexistência pacífica, chamada détente. No entanto, os dois países não cessaram a pesquisa e a produção de armas e mantiveram suas políticas externas de apoio e estímulo a conflitos nas mais diversas regiões do mundo.

OS NÃO-ALINHADOS
Conferência de Bandung
            Esse mundo dominado por duas grandes superpotências, cujo equilíbrio estava baseado no poder de destruição das armas que acumulavam, impediu que a maior parte dos demais países exercesse a autodeterminação, vendo-se obrigados a alinha-se com um dos dois modelos políticos e socioeconômicos: o americano, capitalista, ou o soviético, socialista.
            Mas houve tentativas nesse sentido. Uma delas foi o desenvolvimento dos não-alinhados, estabelecido em 1955 na Conferência de Bandung, Indonésia. Reunindo cerca de 30 países africanos e asiáticos, essa conferência exigiu participação mais ativa desses países nas decisões internacionais e uma política de neutralidade em relação à bipolaridade estabelecida pela Guerra Fria.
            A partir desse encontro popularizou-se o termo Terceiro Mundo, que passaria a se referir à formação de um bloco de países independentes das orientações das duas grandes indiscriminadamente ao conjunto dos países subdesenvolvidos do planeta. Entretanto, apesar da proeminência e da liderança de várias personalidades que participaram ativamente desse movimento, o bloco dos “países não-alinhados” não conseguiu romper a divisão estabelecida pelos Estados Unidos e pela União Soviética.

O GOLPE DE 1964 NO BRASIL E O MUNDO BIPOLAR
João Goulart (Jango)
            De 1961 a 1964 o governo do presidente João Goulart (Jango) desenvolveu uma política externa independente das superpotências da Guerra Fria, caracterizada pelo nacionalismo. Goulart também se mostrou em diversos momentos sensível às questões trabalhistas e sociais. Em fevereiro de 1964 anunciou as reformas de base: um conjunto de reformas sociais que incluía a reforma agrária. Em 31 de março de 1964, o presidente foi deposto por um golpe militar que teve apoio da elite conservadora e da CIA, a Agência de Inteligência dos Estados Unidos.
            Os militares seguiram governando o país por mais de duas décadas. Nesse período promoveram a repressão aos grupos que se opunham a eles e às manifestações populares, implantaram a censura à imprensa e aos movimentos culturais e institucionalizaram a tortura como método para acabar com os grupos clandestinos de orientação socialista. Promoveram o alinhamento do Brasil à política externa norte-americana, demarcando a posição brasileira na ordem mundial bipolar.

Brasil: os militares tomam o poder
            Ao apoiar reivindicações sindicais e populares, Jango crava polêmicas com as tradicionais lideranças políticas, econômicas e militares do país. Sua política externa independente - cancelou concessões de jazidas de ferro de empresas norte-americanas, restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética e ficou neutro na crise entre Estados Unidos e Cuba - provocou atritos com investidores estrangeiros.
(Nosso Tempo, O Estado de S. Paulo / Jornal da Tarde, 1995, p. 474.)

FIM DA ORDEM BIPOLAR
            De 1945 a 1970 o mundo viveu um ciclo de propriedade econômica. Tanto a economia capitalista como a socialista tiveram um crescimento econômico surpreendente, ressaltados os diferentes níveis de desenvolvimento entre os países de cada um dos grupos. A partir da década de 1970, os dois modelos econômicos começaram a apresentar sintomas de crise.
            No mundo capitalista, a crise teve origem nos crescentes déficits comerciais e orçamentários dos Estados Unidos, que levaram o governo desse país, em 1971, a desvalorizar o dólar em relação ao ouro e, em 1973, a decretar a livre conversibilidade da moeda (ou seja, a flutuação do valor do dólar seria determinada pelo mercado), abandonando a paridade dólar/ouro estabelecida na Conferência de Bretton Woods. Com isso, o dólar se desvalorizou em relação a outras moedas fortes - marco alemão, libra esterlina (Grã-Bretanha), iene (Japão) - aumentando a competitividade dos produtos norte-americanos no comércio externo e diminuindo a competitividade dos produtos dos produtos que eram tradicionalmente importados pelos Estados Unidos.
            Nessa conjuntura, a crise se alastrou por todos os países capitalistas, por conta da força da economia norte-americana no mundo. A recessão espalhou-se pelo mundo e abalou principalmente as economias menos desenvolvidas, que dependiam, por um lado, dos investimentos estrangeiros e, por outro, das exportações de produtos agrícolas e matérias-primas para os países desenvolvidos.
            Todo esse quadro foi agravado, ainda na primeira metade da década de 1970, pelo forte aumento do preço do petróleo em 1973, que ficou conhecido como Primeiro Choque do Petróleo.
            No mundo socialista, a crise era resultante do esgotamento do próprio modelo econômico, baseado no planejamento estatal. A falta de criatividade e agilidade para modificá-lo levou ao fim de praticamente todo o sistema.
            Além disso, tanto os Estados Unidos como a União Soviética gastavam quantias enormes em armamentos e na construção de foguetes, naves e satélites espaciais, Essa insensata competição ganhou “apelidos”: corrida armamentista e corrida aeroespacial.
            No caso dos Estados Unidos, a tecnologia militar acabou sendo adaptada à geração de produtos para a economia civil. Mais de 3 000 novos produtos de consumo, lançados pelos Estados Unidos na segunda metade do século XX< foram criados a partir de tecnologia desenvolvida, inicialmente, para produtos ligados a indústria de guerra ou aeroespacial. Já a União Soviética não conseguiu aproveitar dessa maneira a tecnologia militar.

O COLAPSO DO SOCIALISMO
Sputinik, lançada em 4 de Outubro
de 1957
            O modelo do industrialismo soviético, apoiado nas indústrias de base, de armas e aeroespacial, não acompanhou o mesmo ritmo de desenvolvimento tecnológico de outros setores nos países de economia capitalista avançada. O avanço tecnológico das indústrias aeroespacial e bélica foi significativo, mas não colocava produtos nas prateleiras para a população. A União Soviética vivia um paradoxo: lançou o primeiro satélite artificial (Sputinik, em 04/11/1957), fabricou satélites espiões e mísseis de alta precisão, mas, ao mesmo não conseguiu desenvolver uma indústria automobilística com tecnologia própria, não fabricou uma boa televisão nem mesmo uma simples enceradeira que funcionasse perfeitamente.
            O modelo de economia estatal e planificada apresentava limitações em sua própria concepção. O socialismo, ao transferir todos os meios de produção para a gerência do Estado, não estimulou o desenvolvimento técnico dos setores que considerava secundários. O Estado definia o que seria produzido pelas empresas, determinava que estas comprariam tal produto e em tal quantidade, e estabeleceria o preço. Obrigadas a cumprir as metas de produção e de produtividade traçadas pelos planejadores estatais, as empresas compravam de um único fornecedor as mercadorias ou matérias-primas, independentemente de sua qualidade. Na agricultura, tratores e máquinas agrícolas comumente saíam das fábricas já com problemas de funcionamento, e tinham de ser desmontados e consertados pelos próprios agricultores.
            O planejamento estatal não melhorou a qualidade dos produtos de consumo, que não considerava estratégico, e muitos desses produtos não atendiam às necessidades da população.
            No final da década de 1970, a estagnação econômica atingiu praticamente todos os países socialistas. As indústrias estavam funcionando com grande capacidade ociosa, havia falta de matérias-primas, falta de alimentos e dificuldade para importar produtos básicos para o abastecimento da população e o funcionamento da economia. O custo da Guerra Fria havia se tornado insustentável para a economia soviética e constituía um entrave ao crescimento da população de bens de consumo, no mínimo para atender ao ritmo de crescimento da população.
            Embora a crise econômica tenha se manifestado já na década de 1970, o Leste europeu e a União Soviética mantiveram uma situação artificial de preços baixos dentro de suas fronteiras. Entretanto, não promoveram qualquer alteração no modelo econômico, ineficiente e improdutivo. A imagem mais marcante desse país na década de 80 era enormes filas, em que a população disputava a compra dos poucos produtos disponíveis: Vivia-se uma situação inusitada: a população tinha dinheiro mas não tinha como gastá-lo.
MUDANÇAS NO LESTE EUROPEU
Mikhail Gorbatchev
            A partir de 1985, o governo de Mikhail Gorbatchev promoveu uma grande alteração na estrutura política e socioeconômica da União Soviética. Implantou a Perestroika, uma reformulação da economia que tinha como objetivo o aprimoramento do sistema de produção e a reforma da propriedade partícula, além da introdução de mecanismos de mercado. Para vencer a resistência da cúpula de Partido Comunista, as reformas dependiam de um amplo apoio popular que as legitimasse. Para tanto, do foi implantada a glasnost, conjunto de reformas políticas que permitiam as liberdades de expressão e de informação, contidas até então pelo regime socialista e pela ditadura czarista que o antecedeu.
            A política de austeridade e de redução dos gastos públicos fez com que Gorbatchev promovesse, junto ao governo dos Estados unidos, uma série de acordos de desarmamento, para diminuir os gastos com a corrida armamentista.
Queda do Muro de Berlim
            Os efeitos das transformações na União Soviética no final da década de 1980 atingiram os países do Leste europeu, provocando a queda dos governos socialistas, a democratização das instituições e o estabelecimento de eleições livres e diretas.
            O desmoronamento da economia socialista teve efeitos profundos no espaço geográfico da Europa. Em 1989 a Hungria retirou a cerca de arame farpado que havia em sua fronteira com a Áustria. Os húngaros deram os passos iniciais, no Leste europeu, em direção à privatização e à economia de mercado. Na Alemanha Oriental, a evasão incontrolável dos cidadãos para a Alemanha Ocidental via Tchecoslováquia e Hungria, levou o governo provisório a liberar viagens para o exterior e, em 9 de novembro de 1989, a permitir o livre trânsito através do Muro de Berlim. A população encarregou-se de fazer o resto. Em poucos dias, quase nada restava do muro, principal símbolo da Guerra Fria.

FIM DA GUERRA FRIA E AS NOVAS FRONTEIRAS
            Menos de um ano depois da queda do muro, as duas Alemanhas foram unificadas, causando profundas alterações na geopolítica européia. A Alemanha, já fortalecida economicamente, passou a ser o país europeu com maior influência na porção oriental do continente.
Boris Yeltsin
            Na união Soviética, a população passou a apoiar aqueles que prometiam um caminho mais rápido para a transição. Os ultra-reformistas, que melhor capitalizaram essa insatisfação popular, conquistaram maior espaço no governo. Em 1990, o principal representante desse grupo, Boris Yeltsin, foi eleito presidente da Rússia. Após um ano de governo, declarou total autonomia da Rússia frente à União Soviética, e foi seguido pelas demais repúblicas soviéticas.
            Esse ano de 1991 marcou o fim da União Soviética. As 15 repúblicas socialistas que a constituíam transformaram-se em 15 países independentes. Doze delas associaram-se a uma entidade supranacional mais ampla, a CEI (Comunidade dos Estados Independentes), cujo limite de atuação e de integração entre os países ainda não está bem definido. Letônia, Estônia e Lituânia reconquistaram sua independência e não aderiam à CEI. Com o desmembramento da Tchecoslováquia, surgiram a República Tcheca e a Eslováquia.
            A Iugoslávia foi totalmente esfacelada. Formada pro várias nacionalidades e culturas distintas, os conflitos separatistas na década de 1990 dividiram-na em cinco países independentes: Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegóvina, Macedônia e Iugoslávia.
            A derrocada do socialismo significou o colapso de todo o sistema de relações internacionais surgido após a Segunda Guerra Mundial e baseado na Guerra Fria. O fim do socialismo na União Soviética e nos países do Leste europeu abriu as portas para uma reordenação geopolítica no mundo.

Bibliografia:
Geografia Geral e do Brasil - Ensino Médio. Elian Alabi Lucci, Anselmo Lazaro Branco e Cláudio Mendonça. Editora Saraiva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário